quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A Terceira Guerra Mundial (Ou Como Eu Salvei O Mundo Com Apenas Um Maço De Cigarros)

Sonhei que caminhava alegremente por um parquinho infantil quando deparei-me com uma imensa torre feita de blocos de pedra e guardada por dois guardas romanos.

- Opa, e aí, beleza? - perguntei para um dos guardas.

- Na verdade não. Tá tendo a maior festança lá em cima e nós aqui em baixo, matando caramujos.

- Sabe como é - respondeu o outro - não podemos deixar entrar quem não foi convidado. E caramujos são a espécie mais penetra do planeta.

- Ei, você foi convidada? - perguntou o outro, erguendo sua lança em posição de combate.

- Obviamente.

- Tem o convite??

- Bem,  na verdade não. Mas não sou um caramujo, veja - respondi, abrindo os braços para que me vissem melhor.

- Não sei... tem essas coisas na sua cabeça que parecem antenas. O que você acha Scruge?

- Acho que isso é o cabelo dela, coitada. - respondeu o outro guarda - Não deve penteá-lo há o quê, umas duas décadas?

- É verdade. Tudo bem, então. Pode passar. Mas penteie o cabelo quando puder, sim?

E, então, entrei na torre. Havia uma escadaria circular de madeira logo após a entrada. Comecei a subir os degraus lentamente, estava tudo muito quieto para uma festa. Ao chegar ao topo da torre pude ver uma sala imensa, onde várias pessoas estavam agachadas.

- Todo mundo abaixado aí, então!! - gritou uma voz - Vamos tocar fogo!

"Puxa, a festa deve tá bombando, mesmo!" pensei.

Tiros de metralhadora começaram a ecoar pela sala. Um fósforo foi atirado em uma cortina, que começou a queimar quase imediatamente.

"Opa. É outro tipo de fogo. Talvez seja melhor correr".

Desci correndo a escada, e quando cheguei ao térreo, o Thiago, meu namorado, surgiu de trás de uma pilastra, com roupas rasgadas e uma faixa tipo "rambo" na cabeça dizendo-me que fazia parte da "Resistência" e que precisávamos dar o fora dali o quanto antes.

- Não há mais lugares seguros - disse ele, fazendo marcas de tinta guache preta em minhas bochechas e puxando-me pelo braço.

Saímos da torre. Os guardas romanos não estavam mais tomando conta da entrada. Talvez os caramujos tivessem desistido de ir à festa sem convite, uma vez que ela ficara um pouco mais quente do que o esperado, fazendo com que os guardas pudessem voltar para suas respectivas casas a tempo do chá com biscoitos e da novela das seis. Ou talvez eles simplesmente tivessem sido mortos pelos caras maus da história. Vai saber.

Quando chegamos ao parquinho infantil que havia nas imediações da torre alguns senhores fardados e suspeitos estavam rondando o local. Provavelmente eram os caras maus da história. Fizemos então o que era mais lógico naquele momento: fingimos ser crianças pequenas que não tinham ideia do que estava acontecendo e brincamos no balanço.

- Você precisa continuar - disse-me Thiago - Vai, eu fico aqui para te dar cobertura.

Andei por uma rua cheia de postes de iluminação antigos e cheguei na frente de um tipo de galpão cinzento. Nesta hora vários homens fardados apareceram escoltando muitos amigos meus da FFLCH que haviam sido presos por desordem e desacato a autoridade.

- Levem todos para interrogatório. O plano tem que continuar - disse um dos homens, que tinha grandes bigodes cinzas, para um subordinado.

- Estão planejando uma guerra nuclear total - cochichou-me alguém - Eles não sabem que você é da resistência. Faça alguma coisa!

Os caras maus da história levaram meus amigos para dentro do galpão. Eu precisava fazer alguma coisa!

- Mas que diabos! - disse o general de bigodes cinzas - Estou sem cigarros de novo. Essas leis malditas que aumentaram o preço dos maços, não aguento mais pagar tantos impostos.

- Ei, seu general! - disse eu, sacando um maço de cigarros Marlboro do bolso - Eu tenho cigarros.

- Ótimo. Me dá aqui.

- De jeito nenhum! - gritei, correndo de um lado para o outro me esquivando dos seus subordinados

- Peguem essa garota!! - gritou ele enfurecido. Mas eu era boa em "dar olé" nos caras maus da história, que, por sua vez, não tinham uma resistência física muito boa e caíam sem fôlego rapidamente. Talvez por isso eu fizesse parte da "Resistência" e eles não. Quem sabe.

- Será que vou ter que fazer tudo sozinho? - gritou o general, vindo em minha direção.

- Acalme-se, senhor general - disse eu, de cima de uma pilha de subordinados caídos - Eu posso te dar um cigarro, se você quiser.

- É claro que eu quero!

- Então vamos fazer um trato. Eu te dou este maço de cigarros novinho e fechadinho - disse eu, balançando o maço na frente dele - e você liberta meus amigos e desiste do plano maluco de bombardear o mundo.

- Eu não posso fazer isso.

- Então tudo bem, eu mesma vou fumar estes cigarros - respondi, abrindo o maço lentamente.

- Ah... não acredito que vou fazer isso, mas... - disse o general, tremendo - Podem soltar aqueles animais. E cancelem a guerra. Não vale mais a pena, mesmo.

Eu entreguei-lhe o maço de cigarros, meus amigos foram soltos, todos viveram felizes para sempre... e eu acordei.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

O Planeta Água (ou O Dia Em Que Eu Virei Um Menino Azul De Doze Anos)

Pelos idos anos de 2009 sonhei que era um tipo de alienígena. Meu corpo não era muito diferente do dos seres humanos - eu possuía dois braços, duas pernas e uma cabeça, mas era completamente azul. E, além disso, eu era um garoto.

O planeta era quase em sua totalidade recoberto por água. E foi nos poucos pedaços de terra emersa que a espécie humanóide da qual eu fazia parte ergueu sua civilização. Era bastante avançada tecnologicamente, mas nossas ciências andavam de mãos-dadas com a nossa religião. Os deuses ali adorados eram divindades energéticas ligadas às águas e ao sol, e eram justamente nestas ligações energéticas entre o cosmos e a natureza que nossas ciências se baseavam.

Pois bem. Havia um ritual matinal a ser empreendido por todas as crianças de até quatorze anos que consistia na saudação do deus sol. Eu, como já mencionei, era um garoto que devia ter por volta de uns doze anos e, consequentemente, deveria participar de tal ritual, o qual acontecia todos os dias no gramado sempre verde do que foi chamado de Jardim Imperial.

O Jardim Imperial era um espaço enorme, cheio de lagos e rios, que circundava o Palácio Imperial - uma construção muito parecida com aquelas da Grécia terráquea antiga, com pilastras brancas e uma grande escadaria. E bem na frente da grande escadaria, ao lado da porta principal, havia um imenso telão que mostrava os últimos acontecimentos do planeta, em especial o que acontecia em sua órbita. E o ritual de saudação ao sol acontecia do lado oposto da onde ficava este telão, o que fazia com que todas as pessoas ficassem de costas para ele.

Eu - ou o menino azul de doze anos que naquele momento era eu - era, obviamente, filho do Imperador. E era um tanto quanto rebelde, não queria ficar ali naquele jardim erguendo os braços  cantando feito besta para um deus que nem olhos ou ouvidos tinha.

Virei-me então para o Palácio e fiquei a observar o telão. Guardas com capacetes de cascos de tartarugas me viram, e precisei correr para me esconder. Mergulhei em um dos lagos espelhados que havia por ali e comecei a nadar um tipo de dança bizarra. Os guardas gritaram que aquilo era um sacrilégio e que eu devia ser punido, e que meu pai não iria gostar nem um pouco de ver o único filho dele tendo aquele tipo de atitude.

Fui mandado, então, para o "Tubo do Castigo". Crianças desobedientes costumavam passar um tempo lá. Era um tubo transparente, de vidro ou plástico, talvez, que ficava submerso no lago e que mergulhei. E lá estava eu padecendo meu castigo quando me enfezei com aquele mundo e resolvi fazer de tudo para sair dali. Quando eu fosse Imperador, pensei, as coisas seriam bem diferentes.

Por algum motivo - talvez porque eu fosse filho do Imperador - eu tinha alguma ideia de como funcionavam os controles daquele tubo do castigo, e, apertando os botões em uma sequência musical, consegui fazer com que o tubo subisse pelo lago, cada vez mais rápido, até que finalmente atingi a superfície.

O tal ritual - ou talvez fosse outro, aquele planeta tinha um ritual para cada minuto do dia - ainda acontecia. Estavam todos concentradíssimos em posição de águia voadora que nem perceberam minha fuga, com tubo e tudo, do castigo imposto.

Olhei para o telão; todos ainda estavam de costas para ele. E então percebi que havia alguma coisa muito errada com ele. Uma luz vermelha e verde piscava na tela, e se aproximava cada vez mais do nosso planeta.

- Eles chegaram!! - eu gritei - Eu bem que avisei!! Corram todos para o abrigo!!

Abri a porta - ou o que quer que aquilo fosse - do meu tubo do castigo e puxei dois humanoides azuis da minha espécie para dentro: Um senhor bem mais velho e a menina que era minha melhor amiga.

Apontei o tubo para o lago e comecei a descer. O abrigo ficava em um complexo aquático debaixo dos lagos. E no meio do caminho, de repente, meu tubo se partiu. Muita água começou a entrar por vários lugares e o senhor que estava comigo começou a se desesperar. Continuamos nadando, o abrigo estava perto, e, por sorte, conseguimos chegar vivos.

Lá, secos e com ar, vimos que muita gente não tinha tido a mesma sorte que nós. O sistema de segurança bloqueou todas as entradas, fazendo com que muitas pessoas azuis morresses afogadas. Eu chorei, e prometi, entre soluços, para minha amiga e para  senhor que ali estavam, que quando eu fosse Imperador uma tragédia daquelas nunca mais aconteceria.

E acordei...

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Zumbis na FFLCH (ou Como Matar Monstros Com Lápis Número Dois)

Certa noite sonhei que terríveis zumbis atacavam o nosso glorioso prédio de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

Eu estava nas mesas da lanchonete, calmamente tomando meu café, quando o caos se iniciou. Da frente do prédio uma turba de indivíduos desgovernados pôs-se a correr na direção contrária, gritando por suas vidas e avisando os colegas (ou aqueles que por sorte conseguiram escapar de serem pisoteados até a morte) que havia uma horda de zumbis famintos por cérebros do lado de lá.

Levantei-me calmamente e pus a exercer minha função de líder.


(Obs: Sim, obviamente, eu era a líder da FFLCH. E não uma líder dirigente qualquer, mas a Rainha, em toda  a sua glória. Porque, né, o sonho é meu, a protagonista sou eu e meu subconsciente é e sempre foi megalomaníaco)

Como líder, precisava dar um jeito naquela joça. Fiz o que qualquer um na minha posição faria: perguntei para as pessoas que ali se encontravam se, por acaso, alguma delas portava qualquer tipo de armamento que pudesse ser utilizado contra os zumbis. Infelizmente nenhum dos presentes carregava nem uma mísera espada de corte duplo que pudesse me emprestar.

Encontrei uma moça gorducha de cabelos claros e óculos que, oh, pena, justamente naquele dia não havia levado seu arco-e-flecha de caçar gamos, mas por sorte guardara duas lanternas na bolsa para quaisquer eventualidades.

- E o que eu vou ganhar se te emprestar minhas lanternas? - perguntou-me a garota, com as mãos na cintura.

- O seu cérebro permanece na sua cabeça - eu respondi.

- É pouco. Quero não precisar assistir aula por duas semanas e ganhar uma medalha de estrela de honra-ao-mérito.

- Uma estrela de honra-ao-mérito? Francamente, menina. - respondi indignada - Pode ser a de xerife? completei, reirando uma estrela de xerife de velho-oeste da bolsa e entregando-lhe.

Agora nós possuíamos duas lanternas contra milhares de zumbis famintos. Yey.

Os monstros começaram a entrar efetivamente no prédio da História e resolveram montar uma piscininha de mil litros cheia de sangue humano no meio do pátio. Vários dos zumbis eram tipos conhecidos do lugar, aquelas figuras que batem cartão em qualquer festa ou manifestação - só que agora estavam verdes e em plena decomposição -, e um deles começou a fazer um discurso qualquer sobre a revolução do submundo e  a necessidade de uma legislação sobre a questão da zumbinidade e suas implicações.

Neste momento as luzes do prédio já eram história, e estava de noite. Os zumbis aglomeravam-se cada vez mais à minha volta, e eu estava completamente sem saber o que fazer.

Corri para a rampa e, quando cheguei ao segundo andar percebi que aquele era, na verdade, uma enorme varanda de um castelo medieval, e os monstros que antes eram zumbis agora estavam mais para seres encapuzados que lembravam muito os dementadores do Harry Potter. Um destes seres vestia uma roupa de padre vermelha, possivelmente era líder, enquanto todos os outros usavam vestes negras.

E então havia milhões de lápis pretos ao meu redor. Milhões, milhões. Uma voz em algum lugar me disse que todos eles virariam novos monstros encapuzados se eu não fizesse nada a respeito disso, e rápido.

Pus-me, então, a montar um tipo de arco-e-flecha com aqueles lápis e saí a disparar os que tinham as pontas mais afiadas na direção dos seres encapuzados. E,há!, eles tombavam imóveis quando minhas flechas de lápis nº2 acertavam em cheio seus corações.

O monstro com a roupa de padre, percebendo o perigo, veio em minha direção para tentar um contra-ataque, mas fui mais rápida: enfiei-lhe o lápis direto em seu coração, como uma estaca, e observei-o perecer lentamente.

- Coração de zumbi se quebra fácil - murmurou ele, os olhos esbranquiçados fixos nos meus, e então tombou.

Os outros zumbis-dementadores desapareceram em uma nuvem de fumaça e, mais uma vez, eu salvei o mundo de uma praga terrível minutos antes de levantar-me para tomar café.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A Festa das Hárpias (ou Como Me Tornei Uma Heroína Nacional)

Eu tinha acabado de ser convidada para uma festa. Uma festa tranquila, de amigos, no apartamento de uma conhecida minha. Não sabia se iria, ainda, mas acabaram por me convencer. E, por fim, eu fui.

O apartamento não era muito grande, e tinha paredes esverdeadas. Janelas quadradas com venezianas eram voltadas para o prédio vizinho.

Cheguei sozinha, levando uma caixinha de cervejas.

- Que bom que você veio! - disse-me a dona da casa - Mas precisamos ver o que você vai comer - completou, abrindo a geladeira vazia.

- Ah, sim, minhas irmãs e minha prima vieram comigo - respondi, lembrando naquele momento que minhas duas irmãs mais novas e, também, minha priminha de nove anos estavam ali comigo.

- Ótimo, ótimo! - exclamou uma amiga, mais feliz por vê-las do que seria politicamente aceitável.

Andei pelo apartamento cumprimentando conhecidos e cheguei a uma sala que parecia ser uma farmácia.

Uma garota que conheço de vista passou por mim e derrubou algumas prateleiras com remédios. Disse algo que não pude entender e sumiu em um lugar escuro.

- Meninas, quero mostrar uma coisa para vocês, venham aqui - disse a dona da casa para minhas irmãs e minha prima. Elas foram, eu continuei observando os remédios das prateleiras.

A garota que eu conheço de vista apareceu mais uma vez e disse:

- Tudo bem agora, pode ir embora. Elas vão comer.

- Comer? Elas quem? Comer o quê?

- As garotas, ora. É melhor sair daqui enquanto pode.

Minhas amigas que estavam na festa eram todas canibais, e iriam comer minhas irmãs e minha prima!?

Corri para onde elas estavam sendo levadas e dei uma remediada na dona da casa. Leia-se: joguei um frasco de um remédio verde na cara dela. E ela começou a derreter.

As outras moças do apartamento vieram na minha direção, lutamos, encontrei um sabre-de-luz em uma gaveta e fatiei duas delas.

- Corram!! - gritei para minhas irmãs e minha prima.

Corremos para o hall de entrada e apertamos o botão do elevador. Foi quando um homenzinho careca saiu do apartamento ao lado e começou a jogar malas de viagem em nossa direção.

Quando o elevador finalmente chegou e conseguimos sair do prédio, descobri estar em São Pedro. E que lá, naquele portal do inferno, estava nevando.

- Puxa, quem diria, heim! Neve em São Pedro! Que mágico! - eu disse.

- Olha lá! - gritou uma senhora de uma multidão que se aproximava - É a garota que destruiu as hárpias! - disse, apontando para mim - Precisamos premiá-la! É nossa heroína nacional!

Mil pessoas vieram em minha direção parabenizando-me pelo meu feito e entregando-me sacas de ouro e prata. Fiquei rica, comprei um óculos-escuros cor-de-abóbora e um pônei voador.

E aí, quando vieram me pedir que matasse uma tarântula gigante que assombrava o vilarejo das uvas, finalmente acordei.

XD

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Apresentação

Oh, puxa. Estou parecendo uma certa amiga minha que cria blogs como quem troca de roupas.

Acontece que minha Inspiração anda por demais instável, aparecendo por momentos fugazes e desaparecendo antes que alguém possa dizer "parangatirimiruaro".

Resolvi então criar este blog com um objetivo único: Registrar as estórias mirabolantes que meu subconsciente cria na calada da noite.

Até então nunca fiquei na mão com meu sempre ativo Subconsciente. Vamos ver se este meu psicodélico outro-eu conseguirá ajudar-me a driblar esta ébria inconsequente que sempre foi minha Inspiração.